sexta-feira, 30 de dezembro de 2005

Que assim seja...

(30/11/2004)

Que os outros não achem que estou bravo quando na verdade estou triste. E nem pensem que estou triste quando estou apenas cansado.
Que sejam pacientes quando eu não estiver bem e que percebam quando isso acontece.
Que os outros possam me entender, ou ao menos tentar entender, e mesmo quando eu não consiga me expressar, que possam me aceitar.
Que os outros me falem de seus sonhos, planos, crenças, expectativas, passado, futuro, se assim quiserem e se em mim confiarem.
Que compartilhem comigo suas angústias, medos, erros, frustrações, e que eu compartilhe com elas as minhas próprias, para que juntos possamos crescer.
Que os outros sejam sempre verdadeiros comigo e não me bajulem, mas que “sejam sinceros nas suas apreciações e pródigos nos seus elogios”.
Que não tenham receio de dizer algo só para não me magoar ou chatear, e que me critiquem quando eu estiver errado para que eu possa tentar ser melhor.
Que as pessoas especiais em minha vida saibam o quanto as amo mesmo que eu nunca lhes diga, e que não duvidem e nem se esqueçam se um dia eu já tiver lhes dito.
Que me perdoem se algum dia eu lhes faltar ou lhes magoar, pois como todos os outros sou um ser imperfeito, incompleto, que erra e se engana, mas que sempre busca aprender, melhorar... e que só quer mesmo é ser feliz.
Que assim seja e que Deus nos abençoe... Amém.
...

“Que quando chego do trabalho ela largue por um instante o que estiver fazendo – filho, panela ou computador – e venha me dar um beijo como os de antigamente.
Que quando nos sentarmos à mesa para jantar ela não desfie ladainha dos seus dissabores domésticos.
E se for uma profissional, que divida comigo o tempo de comentarmos nosso dia.
...
Que não tire nosso bebê dos meus braços dizendo que homem não tem jeito pra isso,
ou que não sei segurar a cabecinha dele, mas me ensine docemente se eu não souber.
Que ela nunca se interponha entre mim e as crianças, mas sirva de ponte entre nós quando me distancio ou distraio demais.
...
Que ela consiga perceber quando estou preocupado com trabalho, e seja calmamente carinhosa,
sem me pressionar para relatar tudo, nem suspeitar de que já não gosto dela.
Que quando preciso ficar um pouco quieto ela não insista o tempo todo para que eu fale ou a escute,
como se silêncio fosse sinal de falta de amor.
...
Que quando eu saio para o trabalho de manhã ela se despeça com alegria,
sabendo que mesmo longe eu continuo pensando nela.
...
Que com ela eu também possa ter momentos de fraqueza e de ternura, me desarmar, me desnudar de alma,
sem medo de ser criticado ou censurado: que ela seja minha parceira, não minha dependente nem meu juiz
Que cuide um pouco de mim como minha mulher, mas não como se eu fosse uma criança tola e ela a mãe onipotente;
que não me transforme em filho.
Que mesmo com o tempo, os trabalhos, os sofrimentos e o peso do cotidiano,
ela não perca o jeito terno e divertido que tanto me encantou quando a vi pela primeira vez.
Que eu não sinta que me tornei desinteressante ou banal para ela,
como só se só os filhos e as vizinhas merecessem sua atenção e sua alegria.
E que se erro, falho, esqueço, me distancio, me fecho demais, ou a machuco consciente ou inconscientemente,
ela saiba me chamar de volta com aquela ternura que só nela eu descobri,
e desejei que não se perdesse nunca, mas me contagiasse e me tornasse mais feliz,
menos solitário, e muito mais humano.”

Trechos de “Canção dos homens” de Lya Luft